quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ser professora

Hoje o post é dedicado aos meus alunos.

Fim de ano chegando. Chega aquela hora que, durante o ano letivo, muitas vezes nos pegamos ansiando: Chegam as férias.

Não. Nem tudo nesse momento é folia. Alguns alunos não voltaram à minha sala de aula no ano que vem. E agora? Acham que despedir-se é fácil?

Não.
Não é.

Admito que saí de coração partido das minhas salas de aulas de 9º ano hoje. Meus alunos vão seguir outro rumo, vão seguir sua jornada, daqui a pouco serão adultos. E eu fico torcendo com todo meu coração, não para que a vida seja fácil, mas para que eles sejam suficientemente fortes para a vida que tem que ser dura pra valer a pena.

Eu continuo sendo aluna. Ainda serei por muito tempo, porque, mesmo depois de formada continuamos a aprender.

Acham que professor não aprende todos os dias? Sim, nós aprendemos todos os dias. E eu aprendi muito com vocês... com crianças que são fortes, com pessoas crescidas, que aprenderam da melhor maneira que há: Com a realidade.

Agradeço cada dia ao lado de vocês. Agradeço cada sorriso, cada trabalho que me deram, porque é com esse "probleminhas" que eu paro e repenso minha prática. E descubro que há milhares de modos de conseguir facilitar os saberes para que vocês os descubram. E aprendo muito, muito mesmo, com tudo que há em vocês, com toda a vida que vocês já trazem, e todos os conhecimentos que vocês carregam e me apresentam. E eu passo a fazer parte da vida de vocês... mas, sabe, vocês nem sabem o tanto que fazem parte da minha!

Depois de tantos anos em salas de aulas tornou-se normal passar na rua e reconhecer um aluno; sabe que é emocionante até hoje?
Cada um de vocês fica na minha história. Cada um de vocês é um compositor das canções que carrego como minha trilha sonora.

 Aos meus alunos, principalmente àqueles para os quais não vou voltar a lecionar no ano que vem: Muito obrigada por toda a vida que você deixam dentro da minha vida!

Beijos!

Jessiely.



Jessiely Soares é Graduanda em Letras com habilitação em Língua Inglesa e Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Paraiba, além de professora de Língua Inglesa na Rede Municipal de Educação e de Ensino Infantil na Rede Particular de Ensino

sábado, 27 de outubro de 2012

O Foco Narrativo

"O Foco Narrativo"

Conscientes de que o narrador é um personagem fictício, criado para conduzir a trama, e que poderá ter diferentes comportamentos e posições dentro do enredo, é imprescindível entender o comportamento dele.
Para isso, observaremos alguns pontos: de que maneira ele observa, se apenas narra, se narra e participa. 

Como tudo isso decorrerá dentro da trama?

O foco narrativo estuda as diferentes visões do narrador até mesmo quando parece que não existe um narrador.

De acordo com as classificações dadas por Norman Friedman, temos uma gama de posições diferentes, assim nomeadas:

Narrador-Observador

O Narrador-Observador é aquele que conta a história através de uma perspectiva de fora da história, ou seja, em momento algum, ele participa da história, mas em todo o tempo, ele está observando. Este foco narrativo se dá, predominantemente, em terceira pessoa e pode ser dividido em:

"Narrador-Observador Onisciente: É o narrador que tudo sabe sobre o enredo, os personagens e seus pensamentos. A omnisciência do narrador pode ou não se limitar a apenas um dos personagens da história. Por ex.: Na frase: vem cá filho.

Narrador-Observador Câmera: Este narrador não tem a ciência do que se passa nas mentes dos personagens da história, mas conhece tudo sobre o enredo e sobre qualquer outra informação que não sejam intimas da psique dos personagens.

Narrador Personagem

O Narrador-Personagem é aquele, que conta a história através de uma perspectiva de dentro da história, isto é, ele, de alguma forma participa do enredo, sendo um dos personagens da história, usando a Primeira Pessoa (eu ou nós) para se contar historia.

Pode-se classificar o Narrador-Personagem em:

Narrador-Personagem Protagonista: Este narrador é a personagem principal da história, narrando-a de um ponto de vista fixo: o seu. Não sabe o que pensam os outros personagens e apenas narra os acontecimentos como os percebe ou lembra. Grande Sertão: Vereda, Guimarães Rosa; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Narrador-Personagem Testemunha: É o Beenor que vive os acontecimentos por ele descritos como personagem secundária. É um ponto de vista mais limitado, uma vez que ele narra a periferia dos acontecimentos, sendo incapaz de conhecer o que se passa na mente dos outros personagens. Exemplo: Memorial de Aires, de Machado de Assis; As Aventuras de. Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle.

Narrador Intruso e Neutro: Uma das características de ambos os focos narrativos é a possibilidade de fazer comentários sobre a sua vida e a vida dos personagens ou sobre o cenário da narrativa. O narrador que faz este tipo de comentário é chamado de Intruso; o que não o faz, de Neutro."





http://www.slideshare.net/jessielysoares/ligia-chiappini-moraes-leite-o-foco-narrativo






Referências:


  • FRIEDMAN, Norman. Point of View in Fiction: The Development of a Critical Concept.PMLA, Vol. 70, No. 5 (Dec., 1955), pp. 1160–1184 doi:10.2307/459894.
  • LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo (ou A polêmica em torno da ilusão). São Paulo: ática, 1985. Série Princípios. p. 25-70.


Jessiely Soares é Graduanda em Letras com habilitação em Língua Inglesa e Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Paraiba, além de professora de Língua Inglesa na Rede Municipal de Educação e de Ensino Infantil na Rede Particular de Ensino

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O que é Educação - Carlos Rodrigues Brandão. (parte I)


                          O que é Educação - Uma análise


“Mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende”
(João Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas)


“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com um ou com várias: educação? Educações.” 

É assim que Carlos Rodrigues Brandão abre o livro “O que é Educação”.

O autor, Marxista, fiel ao humanismo, preocupava-se em defender uma educação igualitária, baseada nos pilares da igual distribuição de chances.
O primeiro capítulo trata da educação sob a ótica da sociedade em que está inserida. Traz o exemplo da Carta do Índio:

“ Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e
agradecemos de todo coração
Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações, têm concepções diferentes das coisas, e sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.
...Muitos de nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida na floresta e incapazes de suportar o frio e a fome.
Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal.
Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
Ficamos extremamente agradecidos com a vossa oferta, e embora não possamos aceitá-la, para mostrar nossa gratidão, oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns de seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles homens."

Trata-se de uma demonstração das educações que acontecem todo o tempo, em todo lugar, sob todos os aspectos possíveis de modo a ser verdadeiramente livre e que ao mesmo tempo reproduzem o modo de vida social e cultural da comunidade.
A educação se comporta de maneira a obter um fim diferente em cada grupo. Há a educação para dominar e a educação que serve para o dominado.
O autor buscar definir o que são as educações, quais os seus pontos principais e as diferenças que existem em todos os lugares, entre todos os grupos e as diferenças que ocorrem quando a educação se constitui de ferramenta discriminatória, servindo para deseducar e não servindo ao propósito inicial, demonstrando a fragilidade do educador.

O capítulo seguinte “Quando a escola é a Aldeia” demonstra a educação que não se concretiza apenas dentro de um ambiente de sala de aula, mas, muito ao contrário disso. A educação se dá desde a antiguidade, desde as comunidades mais remotas. Afinal, a educação serve para continuarmos a guiar as descobertas e, na “cultura primitiva” esse conceito já era utilizado: Os mais novos já aprendiam com base na observação, a melhor maneira de conseguir alimento, abrigo e o uso do fogo.
Para ilustrar, o autor detalha a educação que acontece numa tribo:

“Nas aldeias tribais mais simples,  todas as relações entre criança e a natureza, guiadas de mais longe ou mais perto pela presença de adultos conhecedores são situações de aprendizagem. A criança vê, entende, imita e aprende com a sabedoria que existe no próprio gesto de fazer a coisa.”









Jessiely Soares é Graduanda em Letras com habilitação em Língua Inglesa e Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Paraiba, além de professora de Língua Inglesa na Rede Municipal de Educação e de Ensino Infantil na Rede Particular de Ensino

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O professor como mestre


"Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua atividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.

A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantém na moral da luta; esse jamais tornará melhores os seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; veem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e, julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam «a pedagogia moderna»; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário. 

Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor.

Eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo." 

Agostinho da Silva, in 'Considerações'



Jessiely Soares